Um dia...
Já corri atrás do que gritava para eu parar.
Já tentei segurar o que, no fundo, já me tinha largado.
Já acreditei que amor era insistir,
quando na verdade era só medo de perder.
E aprendi — da forma mais dura —
que o que se força, quebra.
E o que se agarra com desespero,
escapa pelos dedos.
Desapegar não é bonito.
É rasgar o apego.
É enfrentar o vazio.
É aceitar que algumas presenças
só estavam de passagem,
e que nem tudo o que prometia eternidade
foi feito para durar.
Mas há um instante — um só —
em que a dor se transforma em lucidez.
E percebes que deixar ir é, na verdade, um ato de amor.
Não pelo outro.
Por ti.
Porque o que é teu
não exige que te percas para o manter.
O que é verdadeiro
não pede corridas, provas ou feridas.
Fica.
De outra forma, mas fica.
Hoje, não quero prender nada.
Nem pessoas.
Nem momentos.
Nem versões antigas de mim.
Quero só respirar com a vida.
Olhar para o que fica,
sem pedir garantias.
E brindar ao que vem —
com a serenidade de quem já entendeu
que tudo o que parte,
também liberta.
Porque há despedidas
que são o início de um regresso —
a nós mesmos.
